Sergei Vasilievich Rachmaninoff, 1 de abril de 1873 — 28 de março de 1943) foi um compositor, pianista e maestro russo, um dos últimos grandes expoentes do estilo Romântico na música clássica europeia. "Sergei Rachmaninoff" foi como o próprio compositor grafou o seu nome quando viveu no ocidente, durante a última metade da sua vida. Entretanto, transliterações alternativas de seu nome incluem Sergey ou Serge, e Rachmaninov, Rachmaninow, Rakhmaninov ou Rakhmaninoff.
Rachmaninoff é tido como um dos pianistas mais influentes do Século XX. Os seus trejeitos técnicos e rítmicos são lendários, e as suas mãos largas eram capazes de cobrir um intervalo de uma 13ª no teclado (um palmo esticado de cerca de 30 centímetros). Especula-se se ele era ou não portador da Síndrome de Marfan, já que se pode dizer que o tamanho de suas mãos correspondia à sua estatura, algo entre 1,91 e 1,98 m. Também possuía a habilidade de executar composições complexas à primeira audição. Muitas gravações foram feitas pela Victor Talking Machine Company, com Rachmaninoff executando composições próprias ou de repertórios populares.
A sua reputação como compositor, por outro lado, tem gerado controvérsia desde a sua morte. A edição de 1954 do Grove Dictionary of Music and Musicians notoriamente desprezou a sua música como "monótona em textura… consistindo principalmente de melodias artificiais e feias" e previu o seu sucesso como "não duradouro". A isto, Harold C. Schonberg em seu Vidas dos Grandes Compositores, respondeu, "é uma das colocações mais vergonhosamente esnobes e mesmo estúpidas a ser encontrada num trabalho que se propõe a ser uma referência objectiva". De facto, não apenas os trabalhos de Rachmaninoff se tornaram parte do repertório padrão, mas a sua popularidade tanto entre músicos quanto entre ouvintes vem, no mínimo, crescendo desde a segunda metade do Século XX, com algumas das suas sinfonias e trabalhos orquestrais, canções e músicas de coral sendo reconhecidas como obras-primas ao lado dos trabalhos para piano, mais populares.
As suas composições incluem, dentre várias outras: quatro concertos para piano; a famosa Rapsódia sobre um tema de Paganini; três sinfonias; duas sonatas para piano; três óperas; uma sinfonia para coral (The Bells, ou Os Sinos, baseado no poema de Edgar Allan Poe); vinte e quatro prelúdios (incluindo o famoso Prelúdio em Dó Sustenido Menor); dezessete estudos; muitas canções, sendo as mais famosas a V molchanyi nochi taynoi (No Silêncio da Noite), Lilacs e a sem-letra Vocalise; e o último de seus trabalhos, as Danças Sinfónicas. A maioria de suas peças é carregada de melancolia, um estilo romântico tardio lembrando Tchaikovsky, embora apareçam fortes influências de Chopin e Liszt. Inspirações posteriores incluem a música de Balakirev, Mussorgsky, Medtner (o qual ele considerou o maior compositor contemporâneo e que, de acordo com o Lives de Schonberg, retornou ao complemento por imitá-lo) e Henselt.
Rachmaninov nasceu em Semyonovo, perto de Novgorod, no noroeste da Rússia, em uma nobre família descendente dos tártaros, que esteve a serviço dos tsares russos desde o Século XVI. Os seus pais foram ambos pianistas amadores, e ele teve as suas primeiras lições de piano com sua mãe; entretanto, seus pais não notaram nenhum talento extraordinário no jovem. Por causa de problemas financeiros, a família mudou-se para São Petersburgo, onde Rachmaninov estudou no Conservatório da cidade antes de ir para Moscovo. Lá, estudou piano com Nikolai Zverev e Alexander Siloti (que era seu primo e ex-estudante de Liszt). Também estudou harmonia com Anton Arensky, e contraponto com Sergei Taneyev. Deve-se observar que, no início, Rachmaninov era considerado preguiçoso, faltando muito às aulas para ir patinar. Foi o rigoroso regime da casa de Zverev (que hospedou vários músicos jovens, como Scriabin) que o disciplinou.
Ainda jovem começou a mostrar grande habilidade nas suas composições. Enquanto ainda era estudante, escreveu uma ópera de um acto, Aleko (que lhe rendeu uma medalha de ouro em composição), o seu primeiro concerto para piano, um conjunto de peças para piano, Morceaux de Fantaisie (Op. 3, 1892), incluindo o popular e famoso Prelúdio em Dó Sustenido Menor. (De acordo com as anotações de Francis Crociata, o compositor ficou confuso com a fascinação do público por essa peça, composta quando ele tinha apenas 19 anos de idade. Ele muitas vezes importunou pessoas da plateia perguntando "Oh, será que precisa?" ou dizendo não se lembrar.) Rachmaninov confidenciou a Zverev o seu desejo de compor mais, pedindo uma sala privativa onde ele poderia compor em silêncio, mas Zverev via nele apenas um pianista e estreitou as suas relações com o garoto. Após o sucesso de Aleko, entretanto, Zverev aceitou-o de volta como compositor e pianista. Na verdade, as suas primeiras peças sérias para piano foram compostas e executadas ainda como estudante, aos treze anos, durante a sua residência com Zverev. Em 1892, aos 19 anos, completou o seu Concerto para Piano No. 1 (Op. 1, 1891), que ele revisou em 1917.
A Sinfonia No. 1 (Op. 13, 1896) estreou em 27 de março de 1897 junto com uma longa série de "Concertos Sinfónicos Russos", mas foi deixado de lado pela crítica. Num comentário pitoresco de César Cui, ela foi comparada à descrição das dez pragas do Egito e sugerido que ela seria admirada pelos "inatos" de um conservatório de música no inferno. (Note-se, César Cui é o único membro do grupo nacionalista de compositores russos conhecido como o Grupo dos Cinco cuja música é raramente executada hoje em dia.) Tais críticas são geralmente atribuídas à inadequação da performance; a condução de Alexander Glazunov é geralmente lembrada como um problema: ele gostou da peça, mas era um maestro fraco e estava faminto na hora da execução. A esposa de Rachmaninov, mais tarde, sugeriu que Glazunov parecia bêbado e, apesar disto nunca ter sido dito por Rachmaninov, este não parecia alterado. A recepção desastrosa, combinada com a preocupação da objecção da Igreja Ortodoxa contra o casamento com sua prima, Natalia Satina, contribuiu para um colapso mental seguido de um período em depressão.
Ele escreveu pouca música nos anos seguintes, até começar um curso de Terapia Auto-Sugestiva com o psicólogo Nikolai Dahl, que coincidentemente havia sido um músico amador, Rachmaninov rapidamente recuperou a sua auto-confiança. Um importante resultado dessas sessões foi a composição do Concerto para Piano No. 2 (Op. 18, 1900-01), que foi dedicado ao Dr. Dahl. A peça foi bem recebida em sua estreia, na qual o próprio Rachmaninov foi o solista, e continua sendo até os dias de hoje uma de suas composições mais populares.
O espírito de Rachmaninov acalmou-se mais tarde quando, após anos de tentativas, ele finalmente conseguiu permissão para se casar com Natalia. Eles casaram-se num subúrbio de Moscovo com um padre militar em 29 de abril de 1902, e a união durou até a morte do compositor. Após várias apresentações como maestro, foi oferecido a Rachmaninov o cargo de maestro do Teatro Bolshoi em 1904, embora razões políticas o levassem a resignar em março de 1906, após o que ele foi para a Itália (em Florença e depois em Marina di Pisa) até julho. Passou os três invernos seguintes em Dresden, na Alemanha, trabalhando intensivamente como compositor e retornando à familiar Ivanovka apenas nos verões.
Rachmaninoff fez as suas primeiras apresentações nos Estados Unidos como pianista em 1909, um evento para o qual ele compôs o Concerto para Piano Nº 3 (Op. 30, 1909). Estas apresentações bem-sucedidas fizeram dele uma figura popular na América.
Após a Revolução Russa de 1917, que significou o fim da velha Rússia, Rachmaninoff junto com a sua esposa e duas filhas deixou San Petersburgo e foi para Estocolmo em 22 de dezembro de 1917. Eles nunca retornariam a casa novamente. Rachmaninoff então estabeleceu-se na Dinamarca e passou um ano fazendo concertos pela Escandinávia. Saiu de Oslo (então Kristiania) para Nova Iorque em 1 de novembro de 1918, o que marcou o início do período americano da vida do compositor. Após a partida de Rachmaninoff, a sua música foi banida na União Soviética por muitos anos. A sua produção musical diminuiu, em parte porque ele teve que passar parte de seu tempo com sua família, mas principalmente por causa da saudade de sua terra natal; ele sentiu que deixar a Rússia foi como deixar para trás a sua inspiração.
O declínio nas composições de Rachmaninoff foi dramático. Entre 1892 e 1917 (vivendo principalmente na Rússia), ele escreveu trinta e nove composições com números opus. Entre 1918 e a sua morte em 1943, enquanto vivia nos Estados Unidos, ele completou apenas seis.
Instalando-se nos Estados Unidos, Rachmaninoff começou a fazer gravações para Thomas Edison em 1919, usando um piano vertical o qual o inventor admitiu ser de qualidade inferior; entretanto, os discos renderam fama ao compositor. No ano seguinte ele assinou um contrato exclusivo com a Victor Talking Machine Company e continuou a fazer gravações com a Victor até fevereiro de 1942.
Em 1931, junto com outros exilados russos, ele ajudou a fundar uma escola de música em Paris que posteriormente ganharia o seu nome, o Conservatoire Rachmaninoff. A sua Rapsódia Sobre um Tema de Paganini, um de seus trabalhos mais conhecidos hoje em dia, foi escrito na Suíça em 1934. Ele voltou a compor na Sinfonia No. 3 (Op. 44, 1935-36) e as Danças Sinfónicas (Op. 45, 1940), seu último trabalho completo. Eugene Ormandy e Philadelphia Orchestra estrearam as Danças Sinfónicas em 1941 na Academy of Music. Rachmaninoff caiu doente durante uma turnê de concertos em 1942, e foi subsequentemente diagnosticado com um melanoma maligno.
Rachmaninoff e sua esposa tornaram-se cidadãos americanos em 1 de fevereiro de 1943. O seu último recital, em 17 de fevereiro de 1943 no Alumni Gymnasium da Universidade de Tennessee em Knoxville, profeticamente apresentando a Sonata No. 2 em Si Bemol Menor de Chopin, que contém a famosa marcha fúnebre. Uma estátua comemorativa do último concerto de Rachmaninov existe no Parque de World's Fair, em Knoxville.
À medida em que Rachmaninoff cada vez mais certeza de que não voltaria mais à sua terra natal, ele foi sendo tomado pela melancolia. Muitas pessoas que chegaram a conhece-lo somente nesta época descreveram-no como o homem mais triste que eles já haviam visto. Numa entrevista em 1961, o maestro Ormandy declarou:
«Rachmaninoff foi, na realidade, duas pessoas. Ele odiava sua própria música e estava geralmente infeliz ao executá-la ou conduzi-la para o público, então é este lado triste que o público conhece. Entretanto, entre os seus amigos mais próximos, ele tinha um senso de humor muito bom e tinha um bom espírito».
Rachmaninov morreu em 28 de março de 1943, em Beverly Hills, na Califórnia, apenas alguns dias antes de seu 70º aniversário, e foi enterrado em 1 de junho no cemitério de Kensico, em Valhalla. Nas horas finais da sua vida, ele insistia que podia ouvir música tocando em algum lugar por perto. Após ser repetidamente assegurado de que não era o caso, ele declarou: "então a música está na minha cabeça".
OBRAS
Prince Rostislav, poema sinfônico após Aleksey Konstantinovich Tolstoy (1891, sem número opus)
Aleko, ópera de um ato (1892, sem número opus)
Trio Elégiaque No. 1 em Sol Menor (1892, sem número opus)
Youth Symphony ("A Sinfonia do Jovem") em Ré Menor (sem número opus)
Op. 1, Concerto para Piano No. 1 em Fá Sustenido Menor (1891)
Op. 2, Duas Peças para Violoncelo e Piano (1892)
Prélude
Danse orientale
Op. 3, Morceaux de Fantaisies (1892)
Op. 4, Seis Canções (1890–1893)
Oh no, I beg you, forsake me not! ("Oh não, eu imploro, não me abandone!")
Morning ("Manhã")
In the silence of the secret night ("No silêncio da noite secreta")
Sing not to me, beautiful maiden ("Não cante para mim, bela senhorita")
Oh thou, my field ("Oh vós, meu campo")
How long, my friend ("Há quanto tempo, meu amigo")
Op. 5, Suite No. 1 para Dois Pianos; "Fantaisie-tableaux" (1893)
Op. 6, Duas Peças para Violino e Piano (1893)
Romance
Danse hongroise
Op. 7, The Rock ("A Pedra") (1893)
Op. 8, Six Songs ("Seis Canções") (1893)
Op. 9, Trio Elégiaque No. 2 em Ré Menor (1893)
Op. 10, Morceaux de Salon (1893)
Nocturne em Lá Menor
Valse em Lá Maior
Barcarolle Sol Menor
Melodie em Mi Menor
Humoresque em Sol Maior
Romance em Fá Menor
Mazurka em Ré Bemol Maior
Op. 11, Six morceaux for piano, four hands (1893)
Op. 12, Caprice Bohémien (1894)
Op. 13, Sinfonia No. 1 em Ré Menor (1896)
Op. 14, Twelve Songs ("Doze Canções") (1896)
Op. 15, Six Choruses ("Seis Coros") (1895)
Op. 16, Six Moments Musicaux (1896)
Op. 17, Suite No. 2 para Dois Pianos (1901)
Introduction em Dó Maior
Valse em Sol Maior
Romance em Lá Bemol Maior
Tarantelle em Dó Menor
Op. 18, Concerto para Piano No. 2 em Dó Menor (1901)
Op. 19, Cello Sonata em Sol Menor (1901)
Op. 20, Spring Cantata ("Cantata da Primavera") para Barítono, Coro & Orquestra (1902)
Op. 21, Doze Canções (1902)
Op. 22, Variations on a Theme of Chopin ("Variações Sobre um Tema de Chopin") em Dó Menor (1903)
Op. 23, Dez Prelúdios (1903)
Op. 24, The Miserly Knight, ópera (1904)
Op. 25, Francesca da Rimini, ópera (1905)
Op. 26, Quinze Canções (inclui "Before My Window") (1906)
Op. 27, Sinfonia No. 2 em Mi Menor (1908)
Op. 28, Sonata para Piano No. 1 em Ré Menor (1908)
Op. 29, The Isle of the Dead ("A Ilha dos Mortos"), poema sinfónico (1909)
Op. 30, Concerto para Piano Nº 3 em Ré Menor (1909)
Op. 31, Liturgy of St. John Chrysostom (1910)
Op. 32, Treze Prelúdios (1910)
Op. 33, Études-Tableaux (1911)
Op. 34, Quatorze canções (1912)
Muza ("A Musa") – Pushkin
V dushe u kazhdogo iz nas ("Na Alma de Cada Um de Nós") – Korinfsky
Burya ("A Tempestade") – Pushkin
Veter perelyotnïy ("O Vento Migrante") – Balmont
Arion – Pushkin
Voskresheniye Lazarya ("A Ascensão de Lázaro") – Khomyakov
Ne mozhet bït' ("Não Pode Ser") – Maykov (1910, revista em 1912)
Muzïka ("Música") – Polonsky
Tï znal yego ("Você o Conheceu") – Tyutchev
Sey den', ya pomnyu ("Eu Lembro Daquele Dia") – Tyutchev
Obrochnik ("O Camponês") – Fet
Kakoye schast'ye ("Que Alegria") – Fet
Dissonans ("Discórdia") – Polonsky
Vocaliso, para Soprano ou Tenor e Piano, sem letra (revista em 1915)
Op. 35, The Bells ("Os Sinos") (1913)
Op. 36, Sonata para Piano No. 2 em Si Bemol Menor, várias versões (1913)
Op. 37, All-Night Vigil ("A Vigília de Toda uma Noite") (1915)
Op. 38, Seis Canções (1916)
Op. 39, Études-Tableaux (1916)
Op. 40, Concerto para Piano No. 4 em Sol Menor (1926)
Op. 41, The Three Russian Songs ("As Três Canções Russas") (1927)
Op. 42, Variations on a Theme of Corelli ("Variações Sobre um Tema de Corelli") em Ré Menor (1931)
Op. 43, Rhapsody on a Theme of Paganini ("Rapsódia Sobre um Tema de Paganini") para Piano e Orquestra em Lá Menor (algumas vezes catalogada como op. 42) (1934)
Op. 44, Sinfonia No. 3 em Lá Menor (1936)
Op. 45, Three Symphonic Dances ("Três Danças Sinfónicas") (1940)
Op. posth, Russian Rhapsody ("Rapsódia Russa")
Para ouvir
http://www.youtube.com/watch?v=ecRu6R3qwV4
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